quinta-feira, 4 de março de 2010

Caetano Veloso, "Língua"



Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem.

Correcção da ficha sobre a cantiga "Vida da minh'alma"

Questões 1, 1.1 e 2

1. Medida velha.
1.1.
O mote é o conjunto de versos que contém o tema que o poeta vai glosar (desenvolver) nas várias estrofes (voltas). Enquanto o mote resume a ideia do poema, as voltas desenvolvem essa ideia, ou justificam a afirmação que é feita no mote.
Na cantiga apresentada, o mote é o desabafo de um alguém que já não deseja viver porque não pode ver a sua amada. Nas voltas, o sujeito lírico vai repetir a ideia: «já que vos não vejo / para que é viver?».
2.
O mote estabelece, desde logo, uma relação entre a vida e a visão. A amada é a “vida” da alma do sujeito mas, porque não a pode ver, o sujeito interroga-se sobre o sentido do seu "viver".
Nas voltas, o sujeito vai afirmar que a visão da amada – a «Senhora» – era um bem, e que a sua vida dependia desse bem. Ora, no presente («vivo»), o sujeito lírico vive sem ter razão para viver porque já não vê a amada, daí a interrogação retórica: «Já que vos não vejo / para que é viver?». O sujeito vive sem razão; o Amor e a razão são inimigos, diz (segunda volta).
O sujeito lírico apresenta nos últimos versos uma aparente contradição (em que ninguém “cuidaria”; "cuidar" significa "pensar"): mesmo que a Senhora seja a vida do "eu" lírico («sendo-me vós vida»), ele já não pode viver.

Segundo teste

Lírica camoniana (poemas na medida nova e na medida velha; petrarquismo; figuras de estilo e valor expressivo);
Funcionamento da língua: formação de palavras, orações subordinadas adverbiais (finitas e não finitas) e adjectivas (relativas), complementos e modificadores (só do grupo verbal).

Ficha Formativa sobre Funcionamento da Língua (correcção)

1. (pela ordem das frases)
em Lisboa - modificador
a Lisboa - complemento oblíquo
de Lisboa - complemento oblíquo
para Lisboa - complemento oblíquo
nunca - modificador
bem - modificador
em biologia molecular - complemento oblíquo
bem - complemento oblíquo
devagar - modificador
rapidamente - modificador
a um amigo - complemento indirecto
a Faro - complemento oblíquo
ao cargo - complemento oblíquo
ali - complemento oblíquo
1.1. Complementos são elementos seleccionados pelo verbo; modificadores não são seleccionados pelo verbo.
2.1. Os elementos sublinhados são modificadores de frase.
3.1.
que ladra - modificador restritivo (nota: orações relativas restritivas são sempre modificadores)
misteriosas - modificador restritivo (nota: os adjectivos, surgindo normalmente à direita do nome, restringem a realidade que referem, mas não são seleccionados pelo nome; por isso, são modificadores).
de janela - complemento
de qualidade - modificador restritivo
contra o árbitro - complemento (nota: especifica qual foi a reacção)
4. (pela ordem das frases)
Os pais vêm à festa (oração coordenada) / mas os filhos ficam com os amigos (oração coordenada adversativa).
A Joana está triste (oração coordenada) / pois teve uma má nota (oração coordenada explicativa).
Quando o Rui chegou (oração subordinada adverbial temporal), / fui-me embora (oração principal) / porque já era tarde (oração subordinada adverbial causal).
Estás muito contente (oração coordenada), / logo deves ter tido uma grande nota! (oração coordenada conclusiva)
O aluno é de ciências (oração principal). / que eu conheço (oração subordinada adjectiva relativa restritiva)
É verdade (oração principal) /que és mesmo parvo! (oração subordinada substantiva completiva)
As pessoas (oração principal) / desejam que a situação se resolva. (oração subordinada substantiva completiva)
Parece-me (oração principal) que ele anda triste (oração subordinada substantiva completiva).
Espanta-me (oração principal) que tivesses faltado à reunião (oração subordinada substantiva completiva).
O professor não disse nada, (oração principal) /embora eles tivessem chegado atrasados. (oração subordinada adverbial concessiva)
O professor não disse nada, (oração principal) / apesar de eles terem chegado atrasados. (oração subordinada adverbial concessiva não finita infinitiva) (nota: "terem chegado" é o infinitivo pessoal composto)
Se fizeres tudo bem, (oração subordinada adverbial condicional) / terás um bom resultado. (oração principal)
Fazendo tudo bem, (oração subordinada adverbial condicional não finita gerundiva) / terás um bom resultado. (oração principal)
Como já não precisas de ajuda, (oração subordinada adverbial causal) / vou-me embora (oração principal).
Por já não precisares de ajuda, (oração subordinada adverbial causal não finita infinitiva) / vou-me embora. (oração principal)
O João disse (oração principal) / não ter medo de nada. (oração subordinada substativa completiva não finita infinitiva)
O João é mais astuto (oração principal) / que o Fábio. (oração subordinada adverbial comparativa). (nota: as orações comparativas não podem ser não finitas)
Foste de tal modo convincente (oração principal) / que toda a gente acreditou em ti. (oração subordinada adverbial consecutiva)
Foste de tal modo convincente (oração principal) / a ponto de toda a gente ter acreditado em ti. (oração subordinada adverbial consecutiva não finita infinitiva)
Para que tenhas sucesso, (oração subordinada adverbial final)/ é bom que estudes (oração principal)
Para teres sucesso, (oração subordinada adverbial final não finita infinitiva) é bom que estudes (oração principal)
Nota: são orações subordinadas não finitas todas as que têm o verbo no infinitivo (pessoal e impessoal), no gerúndio e no particípio passado.
5.
Nesta escola, conta-se com o apoio de todos para o Dia da Primavera.
Se eu contasse tudo o que me aconteceu, vocês não iriam acreditar.
Anda-se muito bem neste carro; é muito confortável.
Se o João andasse mais vezes de mota, não teria tantos acidentes.
6. (podem consultar a ficha sobre formação de palavras que vos dei; está no conjunto de materiais sobre os textos de carácter autobiográfico)
perfeitamente - afixação (sufixação)
quebra-nozes - composição morfossintátcica
porta-vozes - composição morfossintáctica
amoral - afixação (prefixação)
extraordinário - composição morfológica
nada - derivação imprópria
corte - derivação não afixal
amanhece - parassíntese
dedão - afixação (sufixação)
debate - parassíntese
imperfeita - afixação (prefixação)
caixinha - afixação (sufixação)
pesca - derivação não afixal
fora-da-lei - composição morfossintáctica
cibercafé - composição morfológica
televisão - composição morfológica
bibliografia - composição morfológica
7.
...explicou-lhe tudo...
... não as lavou...
... disse que as tinha lavado...
Trá-lo
Fá-lo-ei
Fá-lo-ia
Dar-lhe-ei
Comemo-lo
Vimo-lo
 
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